Histórico dos Instrumentos Musicais
Talvez seja do compositor francês
Héctor Berlioz, autor de um famoso “Tratado de orquestração”, a definição de
música que conserva toda a sua vigência: “Qualquer corpo sonoro utilizado pelo compositor é um instrumento
musical.”
A origem dos instrumentos musicais é
remota e controversa e sua evolução acompanha a própria história das
civilizações. Não há povo da Antiguidade que não tenha feito uso de
instrumentos musicais mais ou menos rudimentares, já que a música é uma
linguagem espontânea e inerente ao próprio homem, sendo provável que tenha
aparecido antes da linguagem verbal.
Difícil precisar com rigor a época e o
lugar em que surgiu o primeiro instrumento. Muitos existiram em mais de uma
civilização antiga. Além disso, diversos instrumentos surgiram, praticamente ao
mesmo tempo, em lugares distintos. O certo é que seu uso como entretenimento
puro e simples é uma conquista recente, que remonta à Idade Moderna.
As culturas primitivas atribuíam a
criação dos instrumentos aos deuses, pois acreditavam que a música tinha origem
divina. Assim, de acordo com a mitologia grega, a flauta tinha sido inventada
por Pan, a cítara por Apolo, a harpa por Narada, o alaúde por Pólux e a lira
por Mercúrio.
Os antigos chineses, por sua vez,
acreditavam que a gênese dos instrumentos musicais estava na tentativa de
imitar os sons da natureza. Quando se trata de uma explicação racional, porém,
chega-se à conclusão de que a origem dos instrumentos deve estar intimamente
relacionada com a dança, o trabalho e as atividades guerreiras ou os ritos
mágico-religiosos. A música seria um importante meio de reforço no desempenho
dessas atividades básicas do homem antigo.
Nessas situações, o emprego de
material com potencial sonoro, como armas, ferramentas, joias e adornos levou
provavelmente à necessidade de “musicá-los”, isto é, desenvolver esse
potencial. Essa tese nos fornece as bases para reconstruir sua evolução. A
princípio, lançou-se mão de materiais da natureza ou objetos usados para outros
fins. Posteriormente, as conquistas da técnica foram sendo gradualmente
utilizadas na exploração de novos corpos sonoros.
É muito provável que os instrumentos
rítmicos, chamados de percussão, tenham precedido, no tempo, os tonais e
melódicos. Embora isso não, possa ser comprovado, por falta de documentos dos
povos antigos, pode-se chegar facilmente a essa conclusão, observando-se a
música das sociedades primitivas atuais da Oceania e África Central. Nelas, os
instrumentos são basicamente rítmicos.
Pesquisas arqueológicas revelaram que,
no período Paleolítico, instrumentos de pedra ou osso já eram utilizados como
formas rudimentares de chocalhos, apitos, matracas ou mesmo trompas. No
Neolítico, surgiram os primeiros tambores e flautas de osso e de bambu, bem
como um primitivo instrumento, constituído de uma corda presa a um arco, em
cuja extremidade se colocava a boca e, mais tarde, se fixava um objeto côncavo
(um pote, por exemplo), que servia como caixa de ressonância. Este foi, sem
dúvida, o precursor dos instrumentos de cordas. No 3º milênio antes de Cristo,
apareceram as liras, na Suméria e sabe-se também da existência de harpas e
alaúdes no Egito.
A criação de instrumentos musicais
entre as civilizações da Antiguidade parece ter sido mais significativa na Ásia
e no norte da África. Devemos nos lembrar, no entanto, de que não é fácil
afirmar com certeza se um instrumento é originário de uma determinada região ou
país, na medida em que eles podem ter sido transportados para as mais
diferentes áreas, levados pelo homem em suas conquistas e invasões.
Numa visão de conjunto da música dos
povos da Antiguidade, sabe-se, através do testemunho deixado por documentos –
arte ou escrita -, que os egípcios, assírios, babilônios, hebreus, chineses,
gregos e romanos conheceram muitas espécies de instrumentos musicais, como
harpa, lira, alaúde, flauta, cítara, trompa, trompete, gaita, órgão, xilofone,
além de inúmeros instrumentos de percussão: tambores, pandeiros, sistros,
címbalos, castanholas e campainhas. Embora se encontrem, desde a Antiguidade,
formas rudimentares de instrumentos de palheta, foi só na Idade Moderna que seu
fabrico passou a ser aprimorado.
O crescimento da arte instrumental
durante o século XVI, estimulado pela invenção dos tipos móveis de Gutemberg,
que tornou possível a divulgação das partituras, provocou grande
desenvolvimento na música e, consequentemente, o aparecimento de novos
instrumentos e o aperfeiçoamento dos já existentes.
Nessa época, começaram a surgir os
primeiros fabricantes, como os Andrea Amati, construtor de violinos em Cremona;
Hans Ruckers, fabricante de cravos na Antuérpia; Hans Neuschel e sua manufatura
de trombones em Nuremberg; e Jean Hottetere, especialista no fabrico de flautas
e oboés. Dois séculos mais tarde, com a Revolução Industrial, a mecanização
tornou possível a construção, em larga escala, de todos os tipos de
instrumentos, o que barateou os custos e popularizou os instrumentos e a
própria execução musical.
A evolução dos instrumentos se
processou lenta e gradualmente através dos séculos. Foi na primeira metade do
século XIX, com o grande desenvolvimento da música orquestral, sobretudo entre
1810 e 1850, que os instrumentos musicais adquiriram, em sua essência, as
formas que ainda hoje apresentam.
Colocada a serviço da música, a
tecnologia permitiu o aperfeiçoamento dos instrumentos, possibilitando a
execução de qualquer som sugerido pelo compositor. A partir de então, os
instrumentos passaram a existir em função da música e não mais o contrário. Não
é exagero, portanto, afirmar que os modelos criados por volta de 1850 equiparam
a orquestra para a execução da música do século XX, exceção feita aos
instrumentos eletroacústicos e aos geradores de frequência.
Existem vários critérios de
classificação. Em geral, os instrumentos são ordenados de acordo com o material
empregado, o modo de produção do som, de execução, formato, mecanismo, etc…
Todos são válidos, mas o que nos parece mais satisfatório é o que considera a
maneira de produção do som, em essência, a finalidade da música.
Este critério foi proposto inicialmente pelo filósofo e matemático francês Marin Mersenne, em seu ensaio "Harmonia Universal" (1636/37). De acordo com essa classificação, os instrumentos se agrupam, grosso modo, em 3 grandes categorias: cordas, sopros e percussão. De cada uma delas, só serão abordados aqui os instrumentos que integram a orquestra sinfônica tradicional.